Em defesa da Barrinha de Esmoriz, sítio da Rede Natura 2000

COMUNICADO
06/07/2021

Desde há muitos anos (pelo menos desde 1976) que o movimento ambientalista defende a classificação da Barrinha de Esmoriz como área protegida, dado o seu valor como ecossistema único (é a zona húmida mais importante do litoral Norte de Portugal), como abrigo de fauna e flora e como paisagem de grande valia.

Em junho de 1976, o NPEPVS (Núcleo Português de Estudo e Proteção da Vida Selvagem, antecessor da FAPAS) entregou à Secretaria de Estado do Ambiente e às Autarquias Locais, uma proposta concreta de criação da Reserva Natural da Barrinha de Esmoriz que, até hoje, em quase nada resultou.

É verdade que em 5 de Julho de 2000, por Resolução do Conselho de Ministros publicada no Diário da República, a Barrinha de Esmoriz foi integrada na REDE NATURA 2000, ficando a constituir o Sítio PTCON0018, com 396 hectares, por ser um habitat “1150* Lagunas Costeiras”, habitat de conservação prioritária nos termos da Diretiva Comunitária Habitats Naturais.

Mas pouco adiantou, continuam a ser 396 hectares ao total abandono!

Entretanto, em 2015, foi anunciada um empreitada de 3,3 milhões de euros para dragar a Barrinha de Esmoriz, numa obra da Polis Litoral Ria de Aveiro, cuja necessidade não se nega devido ao fato de durante décadas a Barrinha de Esmoriz ter servido de vazadouro dos esgotos domésticos circundantes, perante a passividade das autoridades locais e nacionais.

Mas, apesar de todo o cumprimento da legislação para desenvolvimento das dragagens, mais uma vez não foram tidos em conta aspetos fundamentais para a preservação desde ecossistema único; os dragados foram colocados sem critério rigoroso e, entre outras coisas, soterraram uma população de orquídeas autóctones raras em Portugal, protegidas por lei, da espécie Spiranthes aestivalis além de outras espécies plantas e de locais de nidificação do Borrelho-de-coleira-interrompida (Charadrius alexandrinus).

Em 2019, a mesma empresa pública Polis Litoral Ria de Aveiro, instalou na Barrinha de Esmoriz uma série de passadiços com fins lúdicos; sem qualquer consideração pelos valores naturais, esses passadiços vieram devassar um ecossistema já de si fragilizado; podiam ter sido feitos e cumprir missão semelhante, mas com mais orientação técnica e sem causarem prejuízos para a avifauna.

Vem, agora, a Polis Litoral Ria de Aveiro, anunciar um novo concurso público para dragagens, uma vez que o que foi lançado em 2016 sofreu inúmeros atrasos; curiosamente, o anúncio da “intenção” é feito em vésperas de eleições autárquicas.

Mas o mais grave desde processo é confundir “poluição” com “retirada de sedimentos”, de nada adiantando a dragagem se a poluição continuar.

Defendem os autarcas, e bem, a “valorização” do local, intenção de que temos muito medo e, esperamos, que essa “valorização” não continue a ser feita com mais passadiços, dragagens e abertura de caminhos.

O local tem um valor natural – logo turístico – inestimável, e é esse valor que deve, naturalmente, ser aproveitado para promover a região.

Não se percebe que num espaço natural que se pretende “valorizado” continuem a proliferar plantas invasoras, como as acácias, a cortaderia ou o chorão-das-areias, e a ser perturbada a fauna; proibiu-se a caça para proteger a avifauna e, afinal, criaram-se novos fatores de perturbação. A caça tinha uma época limitada ao Outono/Inverno; a perturbação pelo ruído ocorre todo o ano, inclusive na época de nidificação das aves.

Também não se percebe que haja milhões para dragagens e passadiços e não haja 25 ou 30 mil euros anuais para ali ter, em permanência, dois Vigilantes da Natureza que zelem pela conservação da Barrinha de Esmoriz.

É que um espaço “valorizado” e não zelado, torna-se rapidamente um espaço vandalizado e alvo de usos inadequados, como seja circular com motos nos passadiços ou nas dunas com viaturas todo-o-terreno.

A FAPAS, Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, quer a valorização cultural, ambiental e económica das localidades e regiões, mas quer que isso ocorra de forma sustentável, sem colocar em risco o que ao sítios dá valor e os torna singulares e diversos, seja a paisagem, seja a fauna ou a flora.

Não respeitar estes princípios não é progresso nem desenvolvimento, é retrocesso!

Quinta de Chão de Carvalhos, 06/07/2021

A Direção da FAPAS
Associação Portuguesa para a
Conservação da Biodiversidade

Informações: fapas@fapas.pt

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