Malpolon monspessulanus
- olhos grandes
- injeta o seu veneno apenas quando a presa está dentro da boca (colmilhos parte posterior da boca)
- adaptada a locais secos
- Se a víbora ouvisse e o licranço visse, não havia ninguém que resistisse.
- Dizer cobras e lagartos.
- Má como as cobras!
- Vender banha de cobra.
Talvez pela grande influência católica na nossa sociedade, as cobras (e répteis em geral) estão associados ao mau olhado, à encarnação do mal na terra e a uma grande variedade de lendas e mitos que têm tanto de cariz negativo, como de imaginação. Um deles é o mito que as cobras são atraídas pelo leite materno, havendo até vários “relatos” de cobras a mamar de tetas de vaca, ou até cobras apanhadas em flagrante delito a mamar em mulheres que acabaram de dar à luz, usando a ponta da cauda para sossegar (e enganar) a criança. Este mito em particular deve ser tão antigo e está tão enraizado que é partilhado entre a cultura popular portuguesa e brasileira, e possivelmente com outras culturas lusófonas também. Como as cobras não produzem lactase (a enzima que degrada a lactose, o açúcar do leite), nem têm adaptações cranio-musculares que lhes permitam fazer sucção, o que facilmente resolve este mito que não passa, então, do muito fértil imaginário comum.
Estes animais tão temidos são também muito importantes nos ecossistemas, já que controlam populações de ratos e outros pequenos animais que por sua vez se refastelam nas nossas hortas! São também maravilhas evolutivas, que perderam as pernas na sua adaptação a ambientes e habitats muito particulares. Finalmente, muitas das espécies de cobras em Portugal (como a víbora-cornuda, que esteve recentemente nas notícias) são espécies protegidas, pois tanto a perda de habitat, como a perseguição por humanos, conseguiram reduzir drasticamente a sua população em Portugal.
A espécie desta semana, uma ilustre representante das cobras de Portugal, é a cobra-rateira (Malpolon monspessulanus). É a maior cobra presente em Portugal, e apesar de venenosa apenas liberta veneno pelos dentes que se encontram na parte de trás da boca, ou seja, esse veneno apenas pode ser injetado nas presas quando estas se encontram já dentro da boca da cobra. Tem os olhos muito grandes, e as escamas supra-oculares conferem-lhe um ar curioso e penetrante. Mas atenção, apesar de grandes os seus olhos não têm capacidade de hipnotizar as suas presas! O que pode acontecer é que como as cobras não têm uma visão (diurna) muito bem desenvolvida, quando em presença de uma cobra as outras espécies desenvolveram como estratégia de defesa ficar estáticas, esperando assim que as cobras não as vejam.
Finalmente, uma curiosidade do nome “cobra”, em Portugal cobra é usado para nos referirmos a todas as serpentes e víboras. No entanto, “Cobra” é também o género de um tipo de serpentes presentes na Índia, as Naja (como a Naja-real, por exemplo). A explicação dada para esta nomenclatura é que quando os portugueses chegaram à Índia por mar, encontraram muitas “cobras”, e este foi o nome que deram às Najas que encontraram. O nome foi ficando, e quando foram descritas para a ciência, usaram o nome “Cobra” para o género, e Naja (nome usado para estas serpentes na língua local) ficou como nome comum.
Se quiserem saber mais sobre este animal tão incrível ouçam este maravilhoso podcast da Raquel Ribeiro (Casa Comum-UP), onde ela desmistifica a atribulada relação entre cobras e humanos em Portugal:
https://www.up.pt/casacomum/natureza-com-clareza/2-ma-como-as-cobras/
E se tiverem a sorte de ver uma cobra em Portugal, lembrem-se que são animais inofensivos e apenas mordem em situações de stress e quando (mal) manuseadas. E lembrem-se também que nenhuma cobra em Portugal (víboras incluídas) produz veneno mortal para os humanos, e o pior que pode acontecer é uma reação alérgica (de maior ou menor escala), equivalente à alergia às picadas de abelha ou aos amendoins. Lagarto, lagarto, lagarto!